Itamar nega venda de Vale e Petrobrás (05/08/1993)

 




Reportagem de 05/08/1993, publicada na Folha de S. Paulo.



Presidente contraria Fernando Henrique e diz que se baseia na Constituição para negar leilão das estatais


O presidente Itamar Franco afirmou ontem que a Petrobrás e a Vale do Rio Doce não serão privatizadas durante o seu governo. A declaração desautorizou o ministro Fernando Henrique Cardoso (Fazenda), que defende a venda da Vale a médio prazo.

"Se o ministro Fernando Henrique e o André Franco Montoro Filho estão defendendo a venda das duas estatais são só eles. Eu mantenho a minha palavra e eu sou o presidente da República", disse Itamar a representantes da UNE (União Nacional dos Estudantes) e Ubes (União Brasileira de Estudantes Secundaristas), que reproduziram as frases ao saírem do encontro.

De acordo com o porta-voz da Presidência, Francisco Baker, Itamar teria dito: "A Constituição diz que a Petrobrás não pode ser privatizada. Isso vale também para a Vale. E eu tenho que respeitar a Constituição".

Na audiência, marcada para tratar de mensalidade escolar, os dirigentes estudantis, simpatizantes do PC do B, disseram ser contra a política econômica do ministro da Fazenda e o programa de privatização. Lembraram a Itamar que Fernando Henrique e Montoro Filho, que preside a comissão de privatização, já estão defendendo a venda da Petrobrás e da Vale, possibilidade descartada pelo presidente no início do governo, segundo os estudantes.

"Eu garanto que essas duas estatais não serão privatizadas no meu governo", respondeu Itamar, segundo o relato dos estudantes.  A venda para a iniciativa privada da Vale do Rio Doce é defendida pelo ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso.

O ministro discute apenas a conveniência de se fazer isso agora. Acha que a venda de estatais desse porte deveria ser feita não imediatamente, mas a médio prazo. O ministro do Planejamento, Alexis Stepanenko também defende a venda parcial (a União ficaria com parte das ações para se beneficiar dos lucros futuros). 


Na sexta-feira vamos tomar outras medidas, sobretudo em relação à privatização. Insistem muito em colocar na lista a Vale do Rio Doce. A ideia é preparar um modelo de privatização. Talvez eu concorde, porque dará um novo ânimo, mas é preciso ver tudo bem direitinho. Não tenho a mesma comichão em favor da privatização na Vale que vejo em vários outros setores e no próprio governo. Quero me convencer melhor, não que tenha alguma reação antiprivatista, mas porque ela é um instrumento muito grande de coordenação de políticas econômicas, se bem usado. O Tasso me chamou atenção para isso. Vamos ver com calma. 
(FHC no livro "Diários da Presidência", 22/02/1995)


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