Peludas e Peladas - Walter Galvão
Peludas e Peladas
Walter Galvão
Jornalista
Publicado no Jornal Correio da Paraíba,
Caderno Opinião, em sexta-feira, 23/08/2013
A história, que é cheia de tragédias, também é um mosaico das conquistas que dão felicidade às pessoas em esferas coletivas e privadas, o que inclui aparentes futilidades. Além disso, funciona como lente de aumento sobre detalhes. Esse movimento de olhar para o detalhe é uma tentativa de perceber o que acontece num espaço que o pensador Karl Marx definia como os poros da sociedade. Um detalhe revelador do que pensamos e queremos nesses nossos dias de vaidades à flor da pele e fixação na beleza do corpo é essa discussão sobre a fisionomia da vagina despertada pelas fotos da nudez da atriz Nanda Costa.
O debate é sobre se é mais bonita, sedutora e elegante a vagina recoberta de pelos ou desprovida dos cachos que transformaram Claudia Ohana num ícone da abundância capilar.
E o interesse social, público, coletivo, que esse dilema desperta é justificado por uma agenda psicossocial que envolve pesquisadores, cientistas e até filósofos. Na perspectiva da filosofia, estaríamos no campo da interferência do poder social nas formas dos usos do corpo, para os prazeres, deveres e controles tão bem estudados na obra de Michel Foucault. Se pensarmos na sociologia da vagina esteticamente percebida, teríamos a discussão sobre o corpo modelado, transformado, artisticamente apropriado, esteticamente modulado, tatuado e penetrado por piercings e objetos similares que é feita na obra de David Le Breton.
No debate sobre a melhor cara para a vagina contemporânea brasileira, que se submete inclusive à vaginoplastia para ter suas proporções, reentrâncias e colorações alteradas, estaríamos pensando e falando sobre a fisiologia simbólica do corpo da mulher, sobre anatomia íntima e imaginário social, sexualidade, beleza, prazer, poder e espetáculo.
Na minha opinião, a vagina peluda e a pelada são bonitas. Se na simbologia do corpo a vagina representa também o mistério, a retirada dos pelos requer do observador a percepção de um mergulho no misterioso sem qualquer advertência. A presença dos pelos adverte para características do corpo como a natureza de sua textura, e da personalidade como o nível de exposição da imagem que se acha adequado. Para mim, os pelos simbolizam a lã e o ninho. E a nudez sem os pelos é um indiscreto sorriso de flor.
NOTA DO TIO CELO:
Walter Galvão escreve muito bem e nos leva a pensar, como diz um jovem amigo meu, para além da caixa, para além da Matrix.
Eu levanto duas lebres aqui: a primeira, que a vagina raspada me parece uma concorrência. O homem tem o pênis, um grande falo, em sânscrito भाल (bhala, "esplendor"), o símbolo da sua autoridade, do seu poder... A vagina é discreta, é a bainha onde se coloca a espada, o que há nela que chame a atenção? É preciso desnudá-la, mostrá-la, expô-la. A segunda lebre diz respeito ao desejo, cada vez maior, pela exposição da vagina infantil, uma espécie de pedofilia que o superego de muita gente não percebeu. Uma vagina raspada é uma vagina de criança, de menina. Aos poucos, a erotização das pequenas, época a época... antes, dançando na Boquinha da Garra, hoje mulheres infantilizadas...
Como o Walter Galvão, sou homem, macho, naturalmente aprecio vaginas quer peludas quer peladas.
E ainda temos, ora veja! um médico dizendo que depilação vaginal não é sinônimo de limpeza. (clique em riba do texto e leia)
E ainda temos, ora veja! um médico dizendo que depilação vaginal não é sinônimo de limpeza. (clique em riba do texto e leia)

VEJA: Atlas Fotográfico de Anatomia











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