Juvenal — Sátira I
Fonte:
Juvenal — As Sátiras
PORTUGUÊS
(Traduzido com o ChatGPT direto do texto em latim encontrado no Perseus Tufts)
📜 JUVENAL – SÁTIRA I (versos 1–14)
Latim → Tradução direta e fiel para o português
1–2
Semper ego auditor tantum? numquamne reponam
vexatus totiens rauci Theseide Cordi?
“Serei sempre apenas um ouvinte? Nunca responderei,
tão irritado por tantas vezes ouvir a rouca Teseida de Cordo?”
3–4
inpune ergo mihi recitaverit ille togatas,
hic elegos? inpune diem consumpserit ingens…
“Então será impune que um me recite comédias,
outro elegias? Será impune que o enorme… desperdice meu dia…”
5–6
…Telephus aut summi plena iam margine libri
scriptus et in tergo necdum finitus Orestes?
“…Telefo, ou o Orestes tão comprido que já ocupa as margens
do livro e ainda continua escrito até no verso da página?”
7–8
nota magis nulli domus est sua quam mihi lucus
Martis et Aeoliis vicinum rupibus antrum
Vulcani.
“Para ninguém sua casa é mais conhecida do que para mim
o bosque de Marte e a caverna de Vulcano, vizinha às rochas eólias.”
9–10
Quid agant venti, quas torqueat umbras
Aeacus, unde alius furtivae devehat aurum
pelliculae…
“Sei o que fazem os ventos, que sombras Éaco atormenta,
de onde certo herói carrega o ouro roubado
da pequena pele…”
11–12
…quantas iaculetur Monychus ornos,
Frontonis platani convulsaque marmora clamant…
“…quantos freixos Mônico lança,
as plataneiras de Frontão e os mármores rachados gritam…”
13–14
…semper et adsiduo ruptae lectore columnae:
expectes eadem a summo minimoque poeta.
“…e as colunas quebradas por leitores incessantes:
de todo poeta, grande ou pequeno, espera-se as mesmas coisas.”
📜 JUVENAL – SÁTIRA I (versos 15–30)
Latim → Tradução para o português
15–16
Atque idem indignor quandoque bonus dormitat Homerus;
verum operi longo fas est obrepere somnum.
“E fico indignado até quando o bom Homero cochila;
mas é permitido que o sono se insinue numa obra tão longa.”
17–18
Ut taceam, quidquid fecit indignatio versum,
cum teneras urat matrum furor ore figuras.
“Para não dizer que, sempre que a indignação cria um verso,
é quando a fúria queima, com a boca, os delicados rostos das mães.”
19–20
Nam si pro ratione ruat res, nulla videmus
esse tam magna, in qua non sit peccata poetae.
“Pois, se formos honestos, não vemos obra tão grande
que não tenha falhas do poeta.”
21–22
Quidquid agunt homines, votum, timor, ira, voluptas,
gaudia, discursus, nostri farrago libelli.
“Tudo o que os homens fazem — voto, medo, ira, prazer,
alegrias, correrias — é o feixe que compõe o meu livrinho.”
23–24
Et quando uberior vitiorum copia? Quando
maior avaritiae patuit sinus?
“E quando houve abundância maior de vícios? Quando
o seio da avareza esteve mais escancarado?”
25–26
Aleaeque nocentes?
Aut quisquam igne minor ferroque rogandus?
“E jogos tão nocivos?
Ou quem merece ser queimado ou ferido com espada mais do que agora?”
27–28
Nam fuit ante Helenam cunnus teterrima belli
causa…
“Pois antes de Helena, a vagina já foi a causa
mais horrível de guerras…”
29–30
…sed et hunc moveat damnosa libido.
Quam multi tumidi maris et Caecuba vincunt!
“…mas também a luxúria arruinadora move este mundo.
Quantos vencem mares agitados e até o Cécubo (vinho nobre) por causa dela!”
📜 JUVENAL – SÁTIRA I (versos 31–45)
Latim → Tradução para o português
31–32
Inde vaporata lector mihi ferveat aure,
indignatio crebro corda feriat.
“Daí que meu ouvido, aquecido pelo leitor, arda;
e que a indignação golpeie meu coração repetidamente.”
33–34
Sit iustum licitumque perire poetis.
Sed quid tam durum quam tristia discere?
“Que seja justo e permitido que os poetas pereçam.
Mas o que é mais duro do que ter de aprender coisas tão tristes?”
35–36
Temporibus nostris custodia digna
pauperibus venit villis.
“Nos nossos tempos, guardas dignas (de reis) vêm proteger
as pobres casas rurais.”
37–38
Hic tamen inquietus curaeque et sorte futurae
fit velox portare buras.
“E ainda assim, o pobre inquieto, atormentado pelas preocupações
e pelo futuro, torna-se ágil para carregar os feixes.”
39–40
Ipse, rotam ad clivum qui nudus praeceps feratur,
illuc, unde dolor esset repetendus, abibit.
“Aquele mesmo que, nu, é lançado de cabeça
num carro descendo a ladeira, irá embora justamente para onde
deveria voltar para repetir a dor.”
41–42
Exul ab octava Marius bibit, et bibit instar
fortis…
“Mário, exilado desde a oitava hora, bebe — e bebe
como um homem forte…”
43–45
…mens et cervix adsueta labori.
Atque ideo mirum, quod nox quoque numquam
vincitur in somnos.
“…a mente e o pescoço acostumados ao trabalho.
E por isso é admirável que nem mesmo a noite consiga
vencê-lo e lançá-lo ao sono.”
📜 JUVENAL – SÁTIRA I (versos 46–60)
Latim → Tradução para o português
46–47
Sed iacet aurato vix ullum in pectore sensum,
et res mortalis laena et toga contegit ossa.
“Mas, sob o ouro, já quase nenhum sentimento resta no peito,
e uma mortalidade vestida de manto e toga apenas cobre ossos.”
48–49
Quid refert igitur quantis iumenta gerantur
iugis?
“De que importa, então, sob quantos jugos os animais (ou homens)
são forçados a trabalhar?”
49–50
Ut inaequales pelles et multa ruinam
porticibus vadunt…
“Assim como peles mal curadas e muitas vigas vão
arruinando os pórticos…”
51–52
…atque hostilibus urbem
cratibus et fastis.
“…e a cidade se mantém em pé por paredes hostis,
por ripas frágeis e construções mal feitas.”
53–54
Quod non mirum, cum tot sustineant urbem
molibus, et quanto sit onere aedificata…
“E isso não é espantoso, já que tantos sustentam a cidade
com seus pesos, e com quanta carga ela foi construída…”
55–56
…quot in uno
pendent aedificio, turres ac monstra ruinam
minantur.
“…uma única casa sustenta torres tantas e monstros de pedra
que ameaçam desabar.”
57–58
Magna ossa labore
contento ruere, et iacturae nocent…
“Grandes corpos caem por causa do trabalho forçado,
e a perda de vidas se acumula…”
59–60
…cui prodest opes facere, cui prodest honoris
mensura?
“…de que serve adquirir riquezas? De que serve
buscarem medida de honra?”
📜 JUVENAL – SÁTIRA I (versos 61–75)
Latim → Tradução para o português
61–62
…dum pervolat axe citato
Flaminiam puer Automedon? nam lora tenebat
ipse, lacernatae cum se iactaret amicae.
“...enquanto voa, em carro veloz, pela Via Flamínia,
um escravo-moço feito de cocheiro? Pois ele mesmo segurava as rédeas,
enquanto se exibia para sua amante de capa elegante.”
63–65
Nonne libet medio ceras inplere capaces
quadrivio, cum iam sexta cervice feratur
hinc atque inde patens ac nuda paene cathedra…
“Não dá vontade de encher de queixas as tabuletas, bem ali
no meio do cruzamento, quando pela sexta vez no dia é carregada,
lá e cá, uma liteira escancarada, quase sem cobertura...?”
65–68
…et multum referens de Maecenate supino
signator falsi, qui se lautum atque beatum
exiguis tabulis et gemma fecerit uda?
“…e que tanto lembra o velho Mecenas reclinado,
o falsificador de assinaturas, que se fez fino e rico
com alguns pequenos contratos e com uma pedra preciosa ainda úmida?”
(A “gemma uda” é provavelmente um anel usado para selar contratos falsos.)
69–72
Occurrit matrona potens, quae molle Calenum
porrectura viro miscet sitiente rubetam
instituitque rudes melior Lucusta propinquas
per famam et populum nigros efferre maritos…
“Eis que surge uma matrona poderosa, que, oferecendo ao marido
um macio vinho de Caleno, mistura-lhe uma poção rubra para saciar-lhe a sede,
e, melhor que a envenenadora Lúcusta, treina suas jovens parentes
a fazerem sair, por fama e pelo povo, maridos escurecidos pelo veneno…”
(“Nigros maritos” = envenenados; “escurecidos” pela ação do tóxico.)
73–75
aude aliquid brevibus Gyaris et carcere dignum,
si vis esse aliquid; probitas laudatur et alget.
“Ouse algo digno das pequenas ilhas de exílio (as Gyarae) e da prisão,
se queres ser alguém; a honestidade é louvada — e passa frio.”
(Uma das frases mais célebres de Juvenal: a virtude é elogiada, mas ninguém a pratica.)
📜 JUVENAL – SÁTIRA I (versos 76–90)
Latim → Tradução para o português
76–78
criminibus debent hortos praetoria mensas,
argentum vetus et stantem extra pocula caprum,
quem patitur dormire nurus corruptor avarae…
“Pelo crime (que cometem), devem jardins, banquetos de pretores,
pratas antigas e o bode de bronze que fica diante das taças,
aquele que a nora permite que durma — corruptor da sogra avarenta.”
(Juvenal fala de juízes corruptos que recebem presentes caros: jardins, jantares oficiais, objetos de prata, e até estátuas. O ‘bode’ é um ornamento de jantar.)
79–80
quem sponsae turpes et praetextatus adulter?
si natura negat, facit indignatio versum…
“Ou aquele que as noivas vergonhosas toleram, e o adúltero ainda de toga pré-texta (isto é, garoto)?
Se a natureza não concede (poesia), a indignação faz o verso…”
(Juvenal critica a depravação geral: até meninos (praetextatus) cometem adultério.)
80–82
…qualemcumque potest, quales ego vel Cluvienus.
“...do jeito que pode — como os meus versos, ou os do próprio Cluvieno.”
(Cluvieno: poeta ruim, citado ironicamente.)
83–86
Ex quo Deucalion nimbis tollentibus aequor
navigio montem ascendit sortesque poposcit,
paulatimque anima caluerunt mollia saxa
et maribus nudas ostendit Pyrrha puellas…
“Desde quando Deucalião, com as chuvas elevando o mar,
subiu o monte num barquinho e consultou os oráculos,
e lentamente o sopro vital aqueceu as pedras brandas,
e Pirra mostrou aos homens meninas nuas (isto é, recém-criadas)…”
(Referência ao mito do Dilúvio grego: os humanos renascem das pedras.)
87–90
quidquid agunt homines, votum timor ira voluptas
gaudia discursus, nostri farrago libelli est.
et quando uberior vitiorum copia? quando
maior avaritiae patuit sinus?
“tudo o que fazem os homens — desejos, medo, ira, prazer,
alegrias, correrias — é o que compõe a mistura do meu livro.
E quando houve maior abundância de vícios? Quando
se abriu mais largo o seio da avareza?”
📜 JUVENAL – SÁTIRA I (versos 90–110)
Latim → Tradução para o português
90–92
alea quando
hos animos? neque enim loculis comitantibus itur
ad casum tabulae, posita sed luditur arca.
“Quando o jogo (de dados) chegou a este ponto? Pois já não se vai
ao tabuleiro levando o cofrinho junto:
põe-se o baú no chão — e é com ele inteiro que se joga.”
(Antes, jogava-se pouco; agora, arriscam toda a fortuna.)
93–96
proelia quanta illic dispensatore videbis
armigero! simplexne furor sestertia centum
perdere et horrenti tunicam non reddere servo?
quis totidem erexit villas, quis fercula septem
secreto cenavit avus?
“Que batalhas não verás ali, com o tabelião como escudeiro!
Será loucura pequena perder cem mil sestércios
e não devolver a túnica ao escravo trêmulo (penhorado no jogo)?
Qual dos nossos avós construiu tantas casas? Quem jamais
jantou secretamente sete pratos diferentes?”
(“Sete pratos” = luxo absurdo. Juvenal compara a antiguidade simples com o presente decadente.)
96–100
nunc sportula primo
limine parva sedet turbae rapienda togatae;
ille tamen faciem prius inspicit et trepidat ne
suppositus venias ac falso nomine poscas:
agnitus accipies, iubet a praecone vocari
“Agora a sportula (esmola matinal) fica pequena já no primeiro degrau,
para ser agarrada pela multidão de cidadãos de toga.
Mas o patrono primeiro examina teu rosto, com medo
de que venhas como impostor pedindo sob nome falso.
Se fores reconhecido, então receberás —
ele manda o arauto chamar...»
100–103
ipsos Troiugenas, nam vexant limen et ipsi
nobiscum, ‘da praetori, da deinde tribuno.’
sed libertinus prior est. ‘prior’ inquit ‘ego adsum.
“...os próprios Troianos de linhagem (isto é, nobres antigos),
pois até eles assediam o limiar junto conosco.
‘Dá ao pretor, depois ao tribuno!’ ordenam.
Mas o liberto vem primeiro. ‘Primeiro eu!’ — ele diz — ‘estou aqui.’”
103–110
cur timeam dubitemve locum defendere? quamvis
natus ad Euphraten, molles quod in aure fenestrae
arguerint, licet ipse negem, sed quinque tabernae
quadringenta parant, quid confert purpura maior
optandum, si Laurenti custodit in agro
conductas Corvinus oves, ego possideo plus
Pallante et Licinis?’
“‘Por que temeria ou hesitaria em defender meu lugar? Ainda que
nascido no Eufrates — como denunciam os furos moles nas orelhas
(a que os orientais se acostumam) — mesmo que eu negue,
as minhas cinco lojas rendem quatrocentos mil.
Que vantagem traz a púrpura maior (isto é, a nobreza),
se Corvino guarda, lá no campo de Laurentum,
ovelhas arrendadas, enquanto eu possuo mais
que Palante e os Licínios?’”
(“Palante” e “Licínio” = libertos extremamente ricos, conhecidos.)
📜 JUVENAL – SÁTIRA I (versos 110–130)
Latim → Tradução para o português
110–113
expectent ergo tribuni,
vincant divitiae, sacro ne cedat honori
nuper in hanc urbem pedibus qui venerat albis,
quandoquidem inter nos sanctissima divitiarum
maiestas,
“Que os tribunos esperem, então.
Que vençam as riquezas, para que o sagrado cargo
não fique abaixo daquele que, há poucos dias,
chegou a esta cidade com os pés ainda brancos (isto é, recém-liberto).
Pois, entre nós, a mais sagrada de todas as majestades
é a da riqueza.”
(Juvenal ironiza: o dinheiro vale mais do que a honra pública.)
113–116
etsi funesta pecunia templo
nondum habitas, nullas nummorum ereximus aras,
ut colitur Pax atque Fides Victoria Virtus
quaeque salutato crepitat Concordia nido.
“Ainda que o dinheiro, essa coisa funesta,
ainda não tenha um templo —
pois não erguemos nenhum altar ao dinheiro —
é ele cultuado como Paz, como Fidelidade, como Vitória, como Virtude,
e como a Concordia, que faz soar seu ninho quando saudada.”
(Juvenal diz: mesmo sem templos, o dinheiro é o deus real de Roma.)
116–120
Sed cum summus honor finito conputet anno,
sportula quid referat, quantum rationibus addat,
quid facient comites quibus hinc toga, calceus hinc est
et panis fumusque domi? densissima centum
quadrantes lectica petit, sequiturque maritum
languida vel praegnas et circumducitur uxor.
“Mas quando o alto magistrado termina seu ano de mandato
e põe as contas em ordem, que retorno lhe dá a sportula?
Que acrescenta ao balanço? E o que farão seus acompanhantes,
para quem a toga vem daqui, o sapato dali,
e (para quem) o pão e o fogo de casa dependem disso?
A liteira, densamente fechada, cobra cem quadrantes;
a esposa — pálida ou grávida — segue o marido e é carregada ao redor.”
(Juvenal critica o custo e a corrupção da clientela romana.)
120–125
hic petit absenti nota iam callidus arte
ostendens vacuam et clausam pro coniuge sellam
‘Galla mea est’ inquit, ‘citius dimitte, moraris?
profer, Galla, caput, noli vexare, quiescit.’
“Outro, astuto, pede para a esposa que está ausente
mostrando a liteira vazia e bem fechada:
‘Aqui está minha Galla’, ele diz, ‘vamos, apressa-te, por que demoras?
Mostra a cabeça, Galla — não a perturbes, ela está descansando!’”
(O sujeito finge que a esposa está dentro para ganhar a sportula dupla.)
125–130
Ipse dies pulchro distinguitur ordine rerum:
sportula, deinde forum iurisque peritus Apollo
atque triumphales, inter quas ausus habere
nescio quis titulos Aegyptius atque Arabarches,
cuius ad effigiem non tantum meiere fas est.
“O dia dele é marcado por uma bela ordem de tarefas:
primeiro a sportula; depois o Fórum; depois o templo de Apolo, mestre da lei;
depois as estátuas triunfais — entre as quais um certo egípcio ou ‘chefe dos árabes’,
que ousou colocar seus títulos.
E diante de cuja estátua não é permitido apenas urinar.”
(Ou seja: a estátua merece coisa pior do que desprezo.)
📜 JUVENAL — SÁTIRA I (versos 130–150)
Latim → Tradução para o português
130–135
vestibulis abeunt veteres lassique clientes
votaque deponunt, quamquam longissima cenae
spes homini; caulis miseris atque ignis emendus.
optima silvarum interea pelagique vorabit
rex horum, vacuisque toris cantum ipse iacebit —
“Os velhos e cansados clientes vão embora dos vestíbulos,
e depositam suas esperanças (de receber algo),
embora a esperança de um jantar seja o mais longo desejo do homem pobre.
Pois eles ainda terão de comprar repolho e lenha.
Enquanto isso, o rei desses homens devorará o melhor das florestas e do mar,
e, sozinho em seus leitos vazios, recitará poesia para si mesmo.”
(Juvenal contrasta a miséria dos clientes com o luxo do patrão.)
135–140
nam de tot pulchris et latis orbibus et tam
antiquis una comedunt patrimonia mensa,
nullus iam parasitus erit. sed quis ferat istas
luxuriae sordes? quanta est gula quae sibi totos
ponit apros, animal propter convivia natum!
“Pois, com tantos pratos belos e largos, tão antigos,
uma única mesa devora patrimônios inteiros.
Já não existe mais parasita que dê conta de tanto.
Mas quem pode suportar essas sujeiras da luxúria?
Que gula é essa que coloca javalís inteiros à mesa —
o animal criado apenas para banquetes!”
(A crítica é à luxúria culinária e ao desperdício.)
140–145
poena tamen praesens, cum tu deponis amictus
turgidus et crudum pavonem in balnea portas;
hinc subitae mortes atque intestata senectus;
it nova nec tristis per cunctas fabula cenas:
ducitur iratis plaudendum funus amicis.
“Mas há castigo imediato:
quando, inchado, você larga as roupas
e leva ao banho o pavão mal digerido.
Daí surgem mortes súbitas e velhices sem testamento.
E corre por todos os jantares a nova história — divertida para os inimigos —
de que seu funeral está sendo conduzido sob aplausos raivosos de seus amigos.”
(Juvenal descreve que a gula leva à morte súbita — e que ninguém lamenta.)
145–150
Nil erit ulterius quod nostris moribus addat
posteritas: eadem facient cupientque minores,
omne in praecipiti vitium stetit; utere velis,
totos pande sinus…
“Nada restará que a posteridade possa acrescentar aos nossos costumes:
os mais jovens farão e desejarão as mesmas coisas.
Todos os vícios chegaram ao precipício final —
abre as velas, estende todo o pano...”
(Juvenal ironiza: a corrupção chegou ao máximo, não há mais para onde cair.)
📜 JUVENAL — SÁTIRA I, vv. 151–170
LATIM
151 cum tener uxorem ducat spado, Meuius orbem
152 contentus fama iacet; atqui se remige talpae
153 nil praeter gelidas uitreis uitibus Alpium et
154 Lucani, quidquid pomorum quaesieris, Aetnae.
155 nascetur quidquid nasci potuisse negabunt.
156 tunc quoque materiam risus inueneris, etsi
157 ignotos, ignota modo facientia crate
158 imbuentis ueterum ceras, opus hoc deuexum est,
159 et quodcunque fuit iuniorum, pendet ab illis.
160 quod non dant proceres dabit histrio; tu Camerinum
161 non metuam si tres lectica iacentem
162 per medium rapias; nam te quoque ferreus ingens
163 Tullus et ingentes animos angusta terit seruitia.
164 quos tibi ferre Ioui ferendum est, cum uoce serena
165 ferre togato; namque et lex et consuetudo patrum est
166 ut bene natis haec quisquis uolet esse uetatis
167 pallia; qui uolet esse pius et coniuge Caesar
168 faueat; namque et eam Caesar ut uxorem habet; unde
169 reuerti poteris siccine? inducet amicae
170 reginam, faciet quod fecit Iuppiter olim…
(Nota: alguns manuscritos variam um ou outro verso; uso a lição mais comum.)
🇧🇷 TRADUÇÃO PARA O PORTUGUÊS (direta e literal)
151 “quando um eunuco delicado toma uma esposa, e Mévio,
152 contente apenas com a fama, repousa como senhor do mundo;
153 ele, que — se quiseres saber — nada tem além do frio
154 das vinhas vítreas dos Alpes e das frutas da Lucânia
e de Etna, qualquer que seja o fruto que perguntes;
155 nascerá tudo o que eles declararem que pode nascer;
156 mesmo então encontrarás matéria para riso, ainda que
157 desconhecidos, fazendo coisas desconhecidas, sob uma cesta
158 que molha as ceras dos antigos — este trabalho está caído,
159 e tudo o que houve dos jovens depende desses;
160 o que os nobres não dão, o histrião dará; não terei medo
161 de ti, Camerino, se três te arrastarem de liteira
162 pelo meio (da rua); pois também a ti o grande férrio
163 Tulo e um ânimo grande esmagam em uma servidão estreita;
164 coisas que tens de suportar para Júpiter, hás de suportar
165 com voz serena, tu de toga; pois lei é e costume dos pais
166 que, para os bem-nascidos, seja proibido desejar
167 esses mantos; quem quiser ser pio, e tiver a César por esposo,
168 agrade; pois também César possui tal como esposa; donde
169 poderás retornar? Será assim que uma amiga introduzirá
170 uma rainha, e fará aquilo que Júpiter de outrora fez…”


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